Memórias de D. Nuno Álvares Pereira em Tomar

in Jornal Cidade de Tomar de 1 de Setembro de 2017




“UMA MULTIDÃO LUZIDA DOS MELHORES DA TERRA”

As “Revelações Tomarenses que antecedem a Batalha de Aljubarrota” publicadas no Jornal Cidade de Tomar a 21 de outubro e 19 de novembro de 2016, permitem retratar a importância histórica e estratégica que Tomar teve na Crise de 1383-1385 em diferentes momentos.
 Ficou demonstrado que não nos devemos apenas cingir historicamente ao reencontro das tropas de D. Nuno Álvares Pereira e as de D. João I, simbolicamente lembrado na entrada da cidade pela Capela de S. Lourenço, fonte e Padrão de D. João I.
Tão valioso para a História de Tomar como este reencontro de tropas, são as táticas estudadas na vila após este momento, no entanto, estamos perante outro assunto de enorme importância histórica que não está incluído nas quatro revelações já apresentadas.
O seguinte assunto está presente na obra;"&g;Vida de D. Nuno Álvares Pereira de 1723, escrita pelo Frei Domingos Teixeira, baseada noutras mais antigas como a Crónica do Condestável de Portugal Dom Nuno Álvares Pereira de autor anónimo e a Crónica de D. João I de Fernão Lopes (século XV).
Refiro-me aos acontecimentos ocorridos no período de tempo entre a chegada de D. Nuno Álvares Pereira a Tomar e a chegada de D. João I à mesma vila.
 Segue-se a informação relevante, já com ajustes linguísticos para melhor entendimento:
“(…) passou logo a Thomar onde foi recebido pelos moradores da Villa com não vulgares demonstrações. Conduzido ao General uma multidão luzida dos melhores da terra que fora larga distância se lhe foram oferecer soldados e só admitiu companheiros; aqui sem tomar tempo para o descanso entrou nos novos e modestos cuidados de aquartelar os soldados sem opressão dos patrões e conseguiu a rara felicidade de parecerem mais filhos que hospedes nas casas em que ficaram (…)”
Estaríamos em Tomar a 6 ou 7 de Agosto de 1385, quando D. Nuno Álvares Pereira veio de Abrantes, após se desentender com D. João I por assuntos de guerra.
A juntar a esta deliciosa informação em que os nabantinos ofereceram os melhores filhos da terra a D. Nuno (onde estariam nobres, cavaleiros, povo entre outros) e estadia nas suas casas, há algo mais a partilhar:
“(…) Tardou El Rei dois dias sem que o Conde permitisse aos seus o andarem vagando porque aquele tempo que precisamente havia de esperar (…) no campo junto a S. Francisco onde formados em esquadrões diferentes se combatiam os companheiros nas aparências inimigos. O Condestável discorrendo a uma e outra parte animava à peleja fazendo daquele certame fingido argumento do valor ou juízo da fraqueza e formando conceito dos afectos na representação castigava a infâmia sem injuria dos cobardes ou escândalo dos tímidos com tão estranha (…) torná-los valentes o raro artificio de premiar os atrevidos (…) Os instrumentos marciais incitavam à briga os golpes sem piedade com que as lanças (…) as espadas se feriam (…) a confusão das vozes (…) aquele espetáculo grato (…)”
A descrição é ardente e rica, descreve muito bem o que se passou na Várzea Grande, frente ao Convento de S. Francisco; onde D. Nuno e os seus experientes homens, sem perder tempo com o desentendimento com D. João I que já estaria resolvido por carta e assim aguardavam a sua chegada em Tomar, treinaram esta gente nabantina através de cenários de guerra, momentos de medo e de euforia, com ambientação às espadas, lanças e outros artefactos de guerra.
Após estes dias de treino intensivo, aconteceu o histórico reencontro com a chegada do recém-aclamado Rei de Portugal D. João I a Tomar, foi montado acampamento, foram estudadas as táticas e novos momentos aconteceram até à partida do exército já unificado, tendo a Batalha de Aljubarrota acontecido a 14 de Agosto de 1385.

Bibliografia:
Peixoto, João Amendoeira. Revelações Tomarenses que antecedem a Batalha de Aljubarrota (Parte I)Jornal Cidade de Tomar, 21 de Outubro de 2016.
Peixoto, João Amendoeira. Revelações Tomarenses que antecedem a Batalha de Aljubarrota (Parte II). Jornal Cidade de Tomar, 18 de Novembro de 2016.
Teixeira, Frei Domingos. Vida de D. Nuno Álvares Pereira. Oficina da Música. 1723.



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