in Jornal Cidade de Tomar de 13 de Abril de 2018
Fotografia de Paulo Peixoto
Fotografia de Paulo Peixoto
O“Discurso de Máximo de Pina em
1600 sobre se fazer navegável o Rio Nabão” publicado neste jornal na edição
de 30 de Março, deixa-nos a questão de quem será Máximo de Pina.
É uma descrição rica e fascinante vinda de um homem com notáveis
ideias para melhorar a economia, o transporte, a indústria e qualidade de vida
na região de Tomar através do rio Nabão, onde surgem informações sobre a
navegação, lugares, moinhos e nomes de gentes da época. (1)
Fiquei impressionado ao perceber que é possível saber mais sobre este
homem, o seu nome completo é Máximo de Pina Marecos. Nasceu na segunda metade
do século XVI, provavelmente na região de Tomar, onde viveu na sua quinta em
Matrena. Máximo é filho do tomarense Fernão de Pina Marecos e de Mór de Faria,
filha de Sebastião Lopes Guedes (senhor de Arzila em África por ter participado
na sua conquista). (2)
Máximo de Pina casou com D. Maria de Lemos, filha de Manuel de Lemos
(o corregedor da vila nabantina), sendo que o seu pai Fernão era filho de
Nicolau de Pina, da grande casa dos Pinas de Florença e de Branca Anes Marecos,
descendente da família Montanha do Reino de Castela. Portanto, grandes famílias
europeias da época. O seu pai, Fernão de Pina, foi um dos conselheiros que
tentou junto de D. Sebastião evitar a Batalha de Alcácer Quibir, tendo depois,
na contenda da sucessão de Portugal com Castela, sido Procurador de ambas as
coroas, vereador perpétuo, conservador da moeda, chanceler e provedor mor da
Saúde no tempo da peste, tendo sido infortunadamente assassinado em Lisboa por
não apoiar a causa portuguesa por D. António Crato. (2)
Na obra de Amorim Rosa, História de Tomar, o nome de Máximo de
Pina surge ligado à indústria do vidro com uma fábrica em Matrena, alvará
concedido por D. Filipe I em 1595, tendo os seus herdeiros continuado o
negócio. A fábrica trabalhava com energia hidráulica e utilizava como
matéria-prima uma terra siliciosa da Charneca da Peralva. Consta ainda nesta
obra, um conflito jurídico entre a mãe de Máximo de Pina, o próprio e o
Convento de Cristo em 1587, relacionado com um caneiro que não deixava os
peixes subir o rio. (3)
À procura doutras informações fui vasculhar as velhinhas revistas
portuguesas, onde mais alguém se surpreendeu com este homem do passado. Máximo
de Pina é mencionado na revista “O Instituto” de 1903, onde é apresentado como
um homem “muito empreendedor e
industrioso”, remetendo para um livro de nome “Inventores Portuguezes” onde já teria sido apresentado como tal,
estando nesta última obra presentes “três
cartas de privilégio para diversos engenhos seus.” (4) Estamos perante um fidalgo tomarense com
estatuto de inventor, de quem podemos encontrar numa outra revista da época da
anterior, “O Archeologo Português”, a
seguinte informação: (5)
“Á categoria de
Pascoal Montanha pertence igualmente um Máximo de Pina, fidalgo da casa real a
quem Filipe II passou carta de privilégio a 16 de fevereiro de 1608 para um
engenho que inventara de limpar as caldeiras de moinhos somente. Este Máximo de
Pina era um homem muito habilidoso, dotado de espírito industrial, pois em seu
nome vemos passadas mais três cartas de privilégio: uma para certos engenhos
com que dobrava o uso das águas das fontes de Lisboa; outra para fazer uns
engenhos de amassar, cozer e biscoitar pão; a terceira finalmente para o
estabelecimento de um forno de vidro.” (5)
Consegui aceder ao livro “Os
Inventores Portuguezes”, onde encontrei as três cartas de privilégio
retidas da Torre do Tombo, tratadas
ao mais alto nível, todas iniciam da seguinte forma: “Eu El-Rei faço saber (…)” (6)
Quero salientar que a Revista “O
Archeologo Português” comete uma gaffe, quando se refere ao “estabelecimento de um forno de vidro”
como uma das três cartas em vez de um engenho “para limpar caldeiras de moinhos”, carta de 16 de fevereiro de
1608, no entanto, o forno de vidro existiu mesmo e Máximo de Pina teve o
privilégio para o seu uso na sua “Quinta
da Matrena, termo da villa da Asseiceira, junto ao rio Nabão” e seria o seu
negócio principal. (5) (6)
Na realidade a Carta que se refere ao forno de vidro está na Revista O
Instituto de 1903, em que sua Majestade se refere ao pedido de Máximo de
Pina para que “na sua quinta de Matrena que estava no termo da vila da
Aceiceira junto ao Rio Nabão pudesse fazer um forno de vidro e que dez léguas
ao redor dele e da dita quinta não houvesse mais fornos de vidro (…) mandei (…)
fazer diligencia pelo bacherel Francisco de Lemdrobe, corregedor da comarca
villa de Thomar e que ouvisse os oficiais da dita villa da Aceiceira (Asseiceira) (...)” (4)
Estas cartas possibilitam perceber o visionário e o quão importante
era Máximo de Pina na sua época, e na presente história de Tomar, que através
da sua ligação à Casa Real, conseguia patentear os seus engenhos retirando
dividendos, sempre com um olhar sobre as dificuldades da sociedade e as
necessidades dos exércitos de sua Majestade como acontece com o seu engenho de
“amassar, cozer e abiscoitar pão”, carta
de 4 de fevereiro de 1583, onde é mencionada uma petição feita por ministros e
oficiais para que Máximo de Pina desenvolva o dito engenho para uma produção em
maiores quantidades, onde sua Majestade eleva a importância deste engenho para
a sua armada.
A Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, também nos revela algo
mais:
“Na Matrena existia desde 1595 um forno de vidro, na quinta de Máximo Pina, fidalgo da Casa Real, a quem Filipe II concederá privilégio de não se poder construir outro numa área de 10 léguas quadradas. No fim do séc. XVIII a propriedade continuava nos descendentes de Máximo Pina. Havia juntamente, moinhos de farinha e lagares de azeite, que das águas do rio tiravam a força motriz. Todas as instalações foram compradas, em 1890, por João de Oliveira Casquilho.” (7)
“Na Matrena existia desde 1595 um forno de vidro, na quinta de Máximo Pina, fidalgo da Casa Real, a quem Filipe II concederá privilégio de não se poder construir outro numa área de 10 léguas quadradas. No fim do séc. XVIII a propriedade continuava nos descendentes de Máximo Pina. Havia juntamente, moinhos de farinha e lagares de azeite, que das águas do rio tiravam a força motriz. Todas as instalações foram compradas, em 1890, por João de Oliveira Casquilho.” (7)
O discurso de Máximo de de Pina, escrito na primeira pessoa, é
claramente um importante documento museológico que merece outra visibilidade. (1)
Todas as informações apresentadas tornam este nabantino num
visionário que centrava as suas invenções com base no fluxo das águas, sendo o
Nabão o motor e inspiração dos engenhos de Máximo de Pina. Este é um tomarense
esquecido, que merece ser relembrado pela sua mestria e visão.
Bibliografia:
(1) O Investigador Portuguez em Inglaterra, Volume 13. Julho de 1815.
(2) Cordeiro, António. História Insulana das Ilhas a Portugal sugeitas
no Oceano Ocidental. Volume II. 1866.
(3) Rosa, Amorim. História de Tomar. Volume II. Página 165. 1965.
(4) O Instituto. Volume 50. Universidade de Coimbra. 1903.
(5) O Archeologo Português. Volume II. Museu Ethnographico Português.
1896.
(6) O Instituto. Volume 48. Universidade de Coimbra. 1901.
(7) Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Editorial
Enciclopédia. Vol. XXXI. 1960.
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