Mulheres Templárias em Tomar – e a “Festa Templária” do futuro

In Jornal Cidade de Tomar de 11 de Janeiro de 2019

A história de Tomar tem muito mais para nos contar do que realmente sabemos, muita informação se ocultou ou alterou, outra perdeu-se durante as invasões e catástrofes naturais, no entanto, linhas soltas de conhecimento ficam e permitem ir ao encontro de algo novo que se aproxima da realidade dos factos. 
 Na extensa e grandiosa obra História da Militar Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo (volume 1), da autoria do Freire Bernardo da Costa, quando se refere ao mestre templário D. Afonso Gomes, surge a seguinte informação: 
 ”Do Mestre D. Afonso Gomes se conserva outra memória numa Escritura de Doação е é digníssima de а escrevermos. Em essa Escritura temos autentico um Documento que prova a tradição que há е nos relatam os antiquíssimos em manuscritos de que houve Freiras Templárias e dеssas Senhoras havia um Convento dentro do Castelo dе Thomar, e estava junto á Igreja de Santa Maria do Castelo, hoje uma Ermida de Santa Catharina. Esta escritura foi feita aos dezassete dе Mayo do anno dе Christo de mil duzentos e noventa. Mandou a fazer huma Ilustríssima Senhora D. Maria Peres mulher de D Estevão Pires Elpinel. Estes dois Senhores se separaram, ele se fez Freire Templário, e já era Comendador dе Santarém; e a dita Senhora se fez Freira Templária, e para professarem, fazendo-se Freires Templários, se separaram. 
 Foi a tal Escritura estando celebrando Capitulo Geral em о Convento de Thomar o Mestre D. Afonso Gomes
 Eis uma novidade desconhecida, Freiras Templárias. No entanto, importante relembrar que num tempo anterior aos Templários, não sendo inédito, na antiga Nabância localizada em Tomar, a Ordem Beneditina tinha Freires e Freiras, tal como nos conta a Lenda de Santa Iria. 
 Podemos questionar as funções destas Freiras Templárias que viviam dentro do Castelo de Tomar, podendo fazer aqui uma comparação com uma ordem contemporânea à nossa templária D. Maria Peres; a Ordem da Gloriosa Santa Maria fundada em Itália por Loderigo D`Andalo em 1233, aprovada pelo Papa em 1261, que era uma ordem religiosa de cavalaria que concedia o grau de “militissa” às mulheres; assim como, uma outra ordem, mas honorifica, fundada em 1149 em Tortosa na Catalunha que homenageava as mulheres combatentes durante a Reconquista, em que numa situação de defesa da cidade, por falta de homens, desempenharam o papel militar. 
 Curiosamente existem canções medievais galego-portuguesas dedicadas a Maria Peres (z), como a “Maria Perez, a nossa cruzada”, salientando que era um nome fácil de encontrar no norte de Portugal e Galiza durante a época medieval. 
 Importante realçar que a falta de elementos do sexo masculino numa altura de crise, pode ser um motivo forte para uma Ordem, que tinha na sua constituição apenas homens, designar mulheres para algumas ou todas as mesmas funções dentro da organização. 
Este apresenta-se como um tema sensível para os estudiosos dos Templários, simultaneamente muito relevante para Tomar, cuja marca é Tomar Terra Templária, e que escapou naturalmente aos cineastas que vieram filmar por estas bandas, pois permite, por exemplo, enriquecer a “Festa Templária” em termos de conteúdo, com Freiras Templárias, e abrir mais uma página na história das Ordens Militares em Portugal. 
 O seu papel militar de defesa do castelo e demais funções bélicas é obviamente questionável, requer maior investigação dos documentos a que o Freire Bernardo da Costa se refere, mas a existência no passado de Freiras Templárias em Tomar, parece evidente e natural fazendo sentido no contexto daquela época.

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