Poeta




(P)
Sabeis meu senhor
Que os poetas sentem mais profundo
Do que o resto dos homens e esplendor
Deste chão que chamam de mundo

E que as palavras do coração
Que percorrem o resto do corpo
São como o pensamento na solidão
Que nos faz refletir um pouco

Porque os poetas pensam
E fazem pensar
Eles libertam
E fazem o povo se libertar

Se acorrentarem os poetas
Estão a acorrentar as palavras
Mas para o vento não há correntes certas
Porque o ar não é a terra que agarras

Não é a água que bebes
Nem o fogo que haverás de apagar
Ele foge entre as tuas mãos e percebes
Que são a fome e a sede a se libertar

A poesia é a arma da democracia
A flor que trazes no peito
O vento que levanta a maresia 
O traço da palavra entre o perfeito e o defeito

(A)
Poeta que falas tão bem
Diz-me o que há mais para contar
O que dentro de ti te detém
 E precisas de libertar

(P)
Sabeis meu senhor que há nova censura
Que os poetas estão calados
Não vejo brilho nem luz nem cura
Que mostrem os errados

Há um certo receio no ar
De dizer o que deve ser dito
Há medo de apontar
O acreditando o acreditar e o acredito

A cultura é vital
Para a existência de um povo
Haja luz para Portugal 
Haja conhecimento para um espírito novo

(A)
Podeis ir Poeta
Senhor do além-respirar
Protege a nossa cultura em voz certa
 De quem a quiser enterrar

João Amendoeira (c)

"Poeta" in Segundo Acto, Cena III. Auto do Descontentamento. NOBILIS, Gualdim Edições, 2015.

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