Revelações tomarenses que antecedem a Batalha de Aljubarrota (Parte II)

Artigo in Jornal Cidade de Tomar de 18 de Novembro de 2016
por João Amendoeira Peixoto

(continuação)

3ª Revelação Tomarense: Em Tomar foi delineada e treinada a tática a utilizar para a batalha, assim como, se recebeu informação sobre o inimigo.
No dia 4 de Agosto de 1385, dez dias antes da Batalha de Aljubarrota, há uma reunião do Conselho de D. João I em Abrantes, onde a maioria se declara contra uma eventual batalha com as tropas de D. Juan de Castela. D. Nuno Álvares Pereira insistia na importância do confronto e no dia seguinte, sem dar satisfação, partiu de madrugada com os seus homens até Tomar. Ocorreram neste período trocas de correspondência entre o Santo Condestável e D. João, onde D. Nuno defendeu a sua posição declarando que ele mesmo, com ou sem o auxílio do seu rei, faria frente aos invasores. (3) (11) (14) De acordo com algumas obras o encontro em Tomar entre as tropas de D. João I e as de D. Nuno terá ocorrido no dia 10 de Agosto, noutras é referida como tendo sido no dia 8 de Agosto, no entanto, de acordo com a obra Lusitana Sacra, a Chancelaria de D. João I apenas assinala a presença do rei em Abrantes no dia 5 e em Tomar no dia 10, parecendo óbvio segundo os autores que tal união tivesse ocorrido antes deste dia, tal como é apresentada na obra Monarchia Lusitana volume VIII, que afirma que o rei partiu de Abrantes para Tomar no dia 8. (3) (11) (14) Na próxima revelação tomarense (4ª) será apresentada uma situação que apoia a posição de que o encontro de Tomar terá ocorrido antes de 10 de Agosto. De acordo com a obra de Fernão Lopes, foi em Tomar que as táticas para a batalha terão sido colocadas em campo, podendo ter sido colocadas em prática no local onde pernoitaram, na região do Flecheiro, zona plana junto ao rio com boas características para o importante treino militar. (13) Segundo o cronista, “(…) d´homens d´armas e de pé e besteiros, e logo el-rei e o condestável concertaram suas batalhas, assim da vanguarda como da retaguarda, e as alas esquerda e direita, e que gentes e capitães haviam de ir em cada uma (…)” (13) Terá sido também de Tomar que D. Nuno enviou quatro homens, no sentido de obter informações sobre as posições castelhanas, assim como, uma mensagem escrita, dirigida ao rei de Castela, para entregar ao inimigo. De acordo com a obra de Fernão Lopes, a resposta aconteceu, tendo o rei D. Juan apresentado os motivos de pretender Portugal. Quando os enviados voltavam a Tomar terão aprisionado um espião português do lado castelhano que por ali cumpria a sua missão, “ (…) e trouxeram aquele escudeiro até Thomar, e os três de cavalo ficaram com ele nos olivais além da ponte, e um deles veio falar ao Condestável (…) ”. (13) E assim, chegou a Tomar a primeira mão de informações sobre as tropas inimigas, sendo de assinalar nesta descrição, a menção da ponte romana tomarense e do olival.

 4ª Revelação Tomarense: Gonçalo Annes Peixoto parte e volta a Tomar como intermediário dos reis
Em Tomar, D. João I envia também um mensageiro de nome Gonçalo Annes Peixoto, escudeiro da sua confiança, ao rei de Castela. Segundo Manuel Francisco de Barros a mensagem destinada à desistência de D. Juan de uma possível batalha, onde D. João se oferece para ser seu amigo e inimigo dos seus inimigos, tinha como intenção maior a de Peixoto observar quem estava presente e como estava organizado o exército invasor. (12) O encontro de Gonçalo Peixoto e o rei de Castela terá ocorrido em Pombal, onde de acordo com os cronistas o rei castelhano se mostrou aberto ao embate das forças. (13) (15) De acordo com José Eduardo da Silva, Peixoto volta a Tomar com a informação para o rei, tal como Fernão Lopes revela “e despedido d´ele voltou a Thomar”. (5) (13) Este momento temporal, desde a saída de Peixoto até ao seu regresso, permite melhor entender a questão do dia da junção dos exércitos não corresponder ao dia 10, pois a saída de Tomar do exército do rei português realizou-se a 11. (3) A ida de Gonçalo Peixoto até Pombal terá durado entre sete a nove horas de viagem, assim como o seu regresso, o que pode ser indicador que deverá ter saído de Tomar, no dia 8 ou 9, e ter voltado já a 10 ou 11, dando consistência aos autores que colocam a chegada do exército de D. João I a Tomar antes do décimo dia do mês de Agosto. Foi também por terras tomarenses, informação de enorme importância para a história de Tomar, que Gonçalo Annes Peixoto revela em particular a D. João I: “Digo-vos, senhor, (…) que naquele dia que eu cheguei fazia el´rei alardo (…) eles são sete mil lanças e dois mil ginetes; bestaria e homens de pé são tantos que não me atreverei a por conto, pajens e doutra gente de carriagem, é tanta a multidão que no mundo não há homem que não se espante, capitães e d´outras pessoas honradas vi (…) como Dom Pedro, filho do Marques de Vilhena, (…) D. Pedro Alvarez Pereira (…) irmão do nosso condestável; D. Gonçalo Nunes, Mestre de Alcântara e D. Pedro Dias, prior de São João, dizem que trazem uma ala; Pedro Gonçalves de Mendonça (…) traz muita gente consigo (…) somente João de Valhasco (…) quinhentas lanças. (…) D. João, filho de D. Telo, primo co irmão d´El rei (…) João Duque e Garcia Rodrigues (…)” (13) Perante a descrição do exército inimigo, D. João I pede a Peixoto para que não revele a ninguém o que lhe contou. Este terá sido o motivo principal do rei português, ao enviar um elemento conhecedor das cortes, conseguindo informação preciosa. (5) (13) (15) Na obra Os Patronos do Mosteiro de Grijó é mencionado o “cavaleiro” Gonçalo Peixoto e um filho seu, de acordo com o autor trata-se de Gonçalo Annes Peixoto, o corajoso português fiel a D. João I que arriscou a vida numa tarefa decisiva que partiu e voltou a Tomar. (11) (13) (14) (15) (16) A Batalha de Aljubarrota aconteceu na tarde de 14 de agosto de 1385, no Chão da Feira, em Aljubarrota, com vitória das tropas de D. João I e de D. Nuno Álvares Pereira. (3) (14) (17)

Revelações Tomarenses 
As Revelações Tomarenses apresentadas são momentos, documentados e presentes em diversas obras, que mostram ser de elevada importância para a história de Tomar, o que prova que devem ser integrados e evocados de futuro em publicações, eventos e motivos museológicos. 

 Bibliografia: 
(3) Lvsitania Sacra. Nuno Álvares Pereira: a sua cronologia e o seu itinerário. Lisboa. 1960.
 (5) Silva, José Soares da. Memória para a História de Portugal. Volume 3. 1732.
 (11) Monteiro, João Gouveia. Aljubarrota Revisitada. Universidade de Coimbra. 2001. 
(12) Barros, Manuel Francisco. Quadro Elementar das relações políticas e diplomáticas de Portugal (…). J.P. Aillaud. 1853. 
(13) Lopes, Fernão. Crónica de El-Rei D. João I. Volume I. Escriptorio. Lisboa. 1897. 
(14) Santos, Victor. Campo de Batalha, Lugar de Memória. Volume I. Universidade de Lisboa. 2010. 
(15) Cardoso, Pedro. As informações em Portugal. Gradiva. Lisboa. 2004.
(16) Pizarro, José Augusto SM. Os Patronos do Mosteiro de Grijó. Porto. 1987. 
(17) http://ensina.rtp.pt/artigo/batalha-de-alljubarrota-documentario/

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