in Jornal Cidade de Tomar, 26 de maio de 2017.
(Continuação da descrição da obra Corografia Portuguesa e Descrição Topográfica do Famoso Reino de Portugal (tomo III))
Na descrição da vila de Tomar, o padre
António Carvalho da Costa (1650-1715) lembra que todos os mestres da Ordem dos
Templários estão sepultados na Igreja Santa Maria dos Olivais, que se situa no
mesmo local onde na altura dos Visigodos esteve o Mosteiro dos Monges de São
Bento.
O autor recorda que estiveram ali todas
as sepulturas dos mestres e que ocupavam toda a igreja, mas que, no entanto, as
que sobreviveram são apenas a de D. Gualdim Pais, o primeiro mestre “que fez esta igreja” e a de D. Lourenço
Martins, o último mestre da Ordem do Templo, pois durante os seus dias se
extinguiu por ordem do Papa Clemente V “no
ano de Cristo de 1308”. Durante o reinado de D. Dinis foi criada a Ordem de
Cristo “e os outros (sepulcros) passaram à segunda capela das cinco, que o D.
Prior e Prelado António de Lisboa mandou fazer na dita igreja em cuja parede se
pôs o epitáfio de D Gualdim e o de Dom Lourenço Martins que diz o seguinte: “Aqui jaz D. Lourenço Martins que foi Mestre
do Templo do Reyno de Portugal, passou dia de Maio da era de 1346”
Na Igreja de Santa Maria dos Olivais está
também sepultado um neto do rei D. Dinis de nome D. Lopo, assim como, D. Gil
Martins, o qual se mandou sepultar na Capela Mor com o respetivo epigrafo, e
sobre este está o monumento (sepulcro) de D. Diogo Pinheiro, prelado de Thomar,
Bispo do Funchal, natural de Barcelos com o seu escudo que inclui um leão a
subir um pinheiro, com o seguinte texto por baixo: Herculea olim data fuere manu
O padre António refere que estavam igualmente
sepultados três mestres da Ordem de Cristo sobre três leões de pedra: D. Martim
Gonçalves, D. Estevão Gonçalves e D. Rodrigo Annes. Estes sepulcros foram
destruídos no tempo do rei D. Manuel I e do seu filho D. João III.
“Tem
esta igreja três naves e está tão metida debaixo do chão que para entrar nela
descem-se dezassete degraus e por esta causa é muito húmida a parede da nave
norte; tem cinco capelas da banda sul, que com a Capela Mor, e colaterais fazem
outra.”
“O
orago desta Igreja de Nossa Senhora da Assunção chamada Santa Maria dos Olivais
por estar cercada de um grande olival tem doze Beneficiados, um Vigário, um
Tesoureiro e quatro moços de coro necessários para a perfeição do culto
divino.”
Na igreja há preciosas relíquias, entre
elas esteve a mão de S. Gregório Nazareno, que no seu tempo o padre António diz
estar no Convento de Cristo.
O autor faz igualmente a descrição da
Igreja de São João Baptista, mandada erguer pelo rei D. Manuel I, ano de 1520,
local onde está o Sacrário e a Pia Batismal. Tem três naves “com bom Coro” e
torre “de sinos e seu relógio”. O retábulo da capela mor é de excelente pintura
e foi mandado fazer pelo Contador da Ordem de Cristo, Pedro Afonso, progenitor
das nobres famílias Toscano, Marecos, Cabral e Vasconcelos, “ao qual por esta obra se lhe deu sepultura
na capela mór e para seus descendentes, por uma carta feita em 1467”
Pela informação sobre a igreja e
importância da mesma, transcrevo em seguida com as respetivas correções, a
descrição dos cultos e das gentes que fazem a sua história:
“Além
da Capela Mor tem da parte do Evangelho a Capela de Jesus Crucificado, cabeça
do Morgado, que instituiu Manuel da Mota, de que foi primeiro administrador o
seu filho o Doutor Bartolomeu da Fonseca, e hoje o é seu neto Manuel da Mota da
Fonseca, aonde tem jazigo perpétuo e missa quotidiana que dizem os Beneficiados
da dita Igreja.
A
Capela de Jesus, Maria, José, que festejam o Juiz & Mordomos todos os anos
& a Capela das Almas com Missa quotidiana & Oficio no Oitavário dos
Defuntos. Da parte da Epistola tem a Capela colateral de S. Jacinto & o
Altar de Santa Maria Magdalena, em os quais se diz Missa todos os Domingos
& dias Santos & e fazem festas nos dias de seus Oragos; a Capela de
Santa Luzia com Missa nos Domingos & dias Santos & festa no seu dia; a
Capela do Apostolo S. Pedro com a Irmandade dos Clérigos & Missa quotidiana
aos Domingos & dias Santos & e festa no dia das Candeias & todos os
anos um Oficio geral pelos Irmãos defuntos & tem boa Sacristia. A Irmandade
do Santíssimo Sacramento desta Igreja tem uma boa Sacristia que mandou fazer à
sua conta o Desembargador Bernardino Gonçalves de Moura Cavaleiro da Ordem de
Cristo natural desta Vila. Tem os Beneficiados desta Igreja uma prerrogativa
que eles com o seu Presidente & Vigário apresentam os Benefícios, que
vagão, & Sua Majestade os confirma.”
(continua)
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