in Jornal Cidade de Tomar de 18 de Agosto de 2017
João Gonçalves Zarco (assinava Zargo) é o navegador “filho de Tomar” presente no Padrão dos Descobrimentos, que de acordo com alguns é avô do célebre Cristóvão Colón (Colombo), aparecendo nos livros escolares como o “descobridor” da Ilha de Porto Santo. (1) (2) (3)
João Gonçalves Zarco (assinava Zargo) é o navegador “filho de Tomar” presente no Padrão dos Descobrimentos, que de acordo com alguns é avô do célebre Cristóvão Colón (Colombo), aparecendo nos livros escolares como o “descobridor” da Ilha de Porto Santo. (1) (2) (3)
Os historiadores não são
coerentes no que toca à naturalidade de João Gonçalves Zarco, no
entanto, a notoriedade deste navegador português levou a que as
terras portuguesas, que reclamam o seu “nome” com ardor, pela sua
origem, feitos ou estadia, tenham dado “a sua” atribuição a
escolas, bibliotecas, pracetas e ruas. O que faz todo sentido.
Zarco terá nascido por
volta de 1390 e falecido em 1471, o que significa que fez e assistiu
a décadas de acontecimentos. Dele contam-se várias histórias e
feitos como, por exemplo, relacionadas com o seu apelido, que alguns
dizem ser uma alcunha por ter sido ferido num olho em batalha, ou,
por outras vias, ter os olhos claros, enquanto outras através de
documentos comprovam a presença da família em Portugal inclusive em
Tomar. (1) (3) (4)
Tomar é o local mais
provável de nascimento deste navegador para muitos historiadores, no
entanto, atualmente na terra não encontramos uma única referência
a este homem, era como se não tivesse existido, ele que aqui viveu,
cresceu, estudou e planeou com reis, cavaleiros e infantes a
exploração dos mares, ele que partiu ao serviço do Infante D.
Henrique e de forma incrível o seu nome chega às histórias de
piratas das ilhas centro americanas que falam de uma caravela de
corsários roubada aos portugueses a que chamavam de “Zarco”.
Não é demais recordar
que a História faz parte da cultura de um povo e no que toca à
terra, “turística” cidade nabantina, torna-se, em sintonia com
as obras terrenas dos Mestres, na fonte de conhecimento e
riqueza, com que é preciso saber lidar e dela retirar o mérito
necessário e equilibrado, reconhecendo, também assim, os esquecidos
da terra.
Zarco faz parte desta
terra, pela mão de Frei Bernardo da Costa da Ordem de Cristo: “João
Gonçalves Zarco, filho de Tomar, o primeiro que por ordem do Infante
foi às conquistas”. (1)
Apenas esta frase diz
tudo, no que toca a ser o primeiro dos primeiros navegadores lusos,
por ordem do visionário Infante D. Henrique a ir às conquistas, a
ser filho nabantino; o que de certa forma pode ter vários
significados, como por exemplo, ter nascido nela, ter família na
região ou ter tido formação como navegador e explorador em Tomar.
(1) (2)
Tal como nos revela
Olivier Ikor na sua obra Caravelas, Zarco imaginou e
estruturou a adaptação dos canhões às embarcações, tentativa
fracassada e já tentada pelos ingleses mas com mais danos do que
sucesso. A sua ideia consistiu em barris leves colocados entre o
arcabuz e a colubrina, que seriam carregados com estruturas
metálicas, e que saíam por aberturas na estrutura da embarcação e
com possibilidade de serem fechadas por uma portada. (5)
A ser assim, foi um
tomarense a “pensar” a famosa “portinhola para canhão” que
assistimos nos filmes de piratas na televisão.
Independentemente de
tudo, Zarco é o primeiro dos exploradores, esteve na conquista de
Ceuta em 21 de Agosto de 1415, “limpou” literalmente parte da
pirataria no alto mar tornando-o mais seguro (há inclusive quem
defenda que o termo Zargo surge como alcunha por ter derrotado um
temível inimigo em África deste nome), fez o reconhecimento da ilha
de Porto Santo em 1418 e da ilha da Madeira, explorou a costa de
África para além do Cabo Bojador, deu início à colonização da
ilha da Madeira, entre outros feitos que o notabilizam na História
de Portugal. (3) (5) (7)
Ainda no tempo de D. João
I, 1426, foi-lhe dada instrução, como capitão do rei e senhor da
dita ilha, para a colonização da Madeira; em 1433, já no reinado
de D. Duarte foi-lhe doada a capitania do Funchal; e em 1460, agora
pelas mãos do rei D. Afonso V, é fixada a composição do seu
brasão de armas e passou a ter como apelido “Câmara de Lobos”,
nome que surge ligado ao local que o navegador atribuiu o mesmo nome
por lá ter descoberto vários lobos-marinhos, e que passou para os
seus descendentes. (4) (5) (7)
É talvez este um momento
de eleição na vida de Zarco: ter desembarcado na Madeira com os
seus trinta anos e ver-se rodeado de Lobos-marinhos. Esta é talvez
uma imagem que sempre o acompanhou.
Uma das teorias, com cada
vez mais adeptos, e que passa por Tomar mais uma vez, afirma que
Cristóvão Colón (Colombo) é Salvador Gonçalves Zarco, filho da
tomarense Isabel Gonçalves Zarco (filha de João Gonçalves Zarco)
que teve uma relação “proibida” com o Infante D. Fernando
(filho de D. Duarte de Portugal) e por esse motivo “fugiu” para
Cuba no Alentejo para dar à luz o futuro navegador intitulado como o
descobridor da América. Muitos são os factos que sustentam esta
teoria e parecem fazer sentido, tal como a atribuição do nome de
Cuba à ilha pelo próprio. (4) (8)
No Padrão dos
Descobrimentos o navegador Zarco é o segundo elemento, a seguir ao
Infante D. Fernando, que está à direita do Infante D. Henrique que
segura uma Caravela. Zarco está sepultado na Capela de Nossa Senhora
da Conceição no Funchal.
Bibliografia:
- Frei Bernardo da Costa. Inéditos da Ordem de Cristo. EADS. 1980.
- Russel, Peter. Infante O Navegador. Livros do Horizonte. 2004.
- Gomes, Alberto. Nódulas Camilianas. Tipografia Alcobacence. 1965.
- Barreto, Augusto. O Português Cristóvão Colombo: agente secreto Do Rei Dom João II. Referendo. 1988.
- Ikor, Olivier. Caravelas: O Século de Ouro dos Navegadores Portugueses. Casa das Letras. 2011.
- Rosa, Manuel. Colombo Português. Esquilo. 2009.
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