Memórias de D. Nuno Álvares Pereira em Tomar - II

in Jornal Cidade de Tomar de 22 de Setembro de 2017


UM MILHÃO DE EUROS EM TOMAR

O artigo “Revelações Tomarenses que antecedem a Batalha de Aljubarrota” publicado no Jornal Cidade de Tomar de 21 de Outubro de 2016 aborda que D. Nuno Álvares Pereira terá sofrido uma tentativa de suborno em Tomar em Julho de 1384, à qual não cedeu.
É assim que nos contam os livros velhos, que de uma forma ou de outra procuram recontar os mestres tais como Fernão Lopes e o anónimo que escreveu a “Crónica Do Condestável” no século XV.
Esta nova abordagem que faço a D. Nuno pretende enriquecer a temática e mostrar a importância destes momentos que poderiam ter em tudo alterado o rumo da história e alterado tudo tal e qual como conhecemos.
Volvendo a obra “A vida de D. Nun`Álvares” (1893) da autoria de Joaquim Pedro Oliveira Martins (historiador, político, cientista), o momento é novamente relembrado:
“Viraram para leste direitos a Thomar, desmantelados como iam. Aí o judeu D. David, cujos bens Nun'alvares havia de herdar, se herdasse, aproximou-se d'ele sorrindo untuosamente, chocalhando a bolsa. Tinha ali mil dobras d'el-rei de Castela... mil dobras de ouro d'el-rei D. Pedro, como já se não cunhavam, agora que só havia prata. ' Sem o maltratar, Nun'alvares observou-lhe que só recebia dinheiro d'aqueles a quem servia.“
De notar o pormenor de que as moedas estão cunhadas com os elementos de um antigo rei à época, D. Pedro de Castela, pois em 1384 o rei de Castela é D. João de Trastâmara.
No artigo das revelações (2016) a obra utilizada foi a “Crónica dos Carmelitas” (1732) de José Pereira Santana, que interpela a mesma situação:
“Passando a Thomar foi notória a necessidade que teve de dinheiro e valendo-se da ocasião Gonçalo Vasques de Azevedo o mandou tentar por um Judeu de grande nome e muita riqueza neste Reino em quem totalmente confiava a Rainha Dona Leonor Telles oferecendo-lhe como em atenção a El Rey de Castela mil dobras e mais se fosse servido: ao qual D Nuno Alvares Pereira, sem ignorar, a dissimulação, respondeu com prudência: Que Ihe agradecia muito a atenção mas que por ora a ainda se podia remediar sem valer-se dele. Por este modo deu o ultimo desengano ao judeu que ficou tão admirado como confuso dos Autores do estratagema.”
Há de ter em consideração que os autores do dito “estratagema” são claramente D. Leonor e João de Castela, através dos seus subordinados.
A aceitação deste suborno por parte de D. Nuno, muito provavelmente teria levado ao sucesso do rei de Castela em Portugal, que seria aclamado rei; enquanto o mestre de Avis deveria ter sido obrigado a exilar-se junto dos ingleses; a ínclita família não teria existido e tudo o que com ela decorreria tal como a Era dos Descobrimentos; e por mais estranho que pareça provavelmente não teríamos a “Janela do Capítulo” em Tomar nem o “Mosteiro dos Jerónimos” em Lisboa.
Este momento é uma lição de moral para todos sem exceção, de acordo com as pequenas notas de Oliveira Martins nesta obra, “o valor comparado temos 28 contos de réis, para comprar o guerrilheiro. Outros se venderam por mais, e também por menos, nos nossos dias.”
Partindo da afirmação de Oliveira Martins e considerando que um conto de reis em 1893 valeria algo em torno de 1 kg de ouro, teríamos 28 Quilos de ouro, cujo valor se pode aproximar de 1 milhão de Euros (200 mil contos na moeda antiga).
A história pertence para a revermos e com ela aprendermos.


Bibliografia:
- Santana, José Pereira. Crónica dos Carmelitas. 1745.
- Peixoto, João Amendoeira. Revelações Tomarenses que antecedem a Batalha de Aljubarrota (Parte I). Jornal Cidade de Tomar, 21 de Outubro de 2016.
- Martins, Oliveira. A vida de D. Nun`Álvares. 1893.

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