SABINULA E O SEU FILHO CAIUS: Segredo Templário

Crónica Feitos&Feitios de João Amendoeira Peixoto in Jornal Cidade de Tomar de 13 de Fevereiro de 2020 

 Os templários quando ergueram o castelo de Tomar, imortalizaram na Torre de Menagem algumas recordações romanas encrustadas nas paredes, entre as quais duas estelas que mencionam o nome Sabinula, hoje datadas do século I ou II d.C.. 
Este facto acontece, dado serem utilizadas pelos templários as ruínas das antigas civilizações romana e bárbara para erguer os majestosos castelo e convento. O CATÁLOGO NA ARTE ANTIGA: Exposição 1 a 20 março de 1983, apresenta um espólio em imagem de achados na região de Tomar, onde duas inscrições funerárias dedicadas por Sabinula surgem em fotografia 9, 10 e 11. A inscrição presente nas fotografias 9 e 10, “é dedicada a Rufus por Sabinula, sua mulher, datada de I d.C.-II d.C.”, enquanto a inscrição da fotografia 11 “é dedicada a Gaio Attio Attiano Rufo, por Sabinula sua mãe”. De acordo com os autores do catálogo, as pedras terão sido encontradas na margem esquerda do rio Nabão, sendo que a primeira se encontra na “verga da janela do 1º andar do lado sul da Torre de Menagem e a segunda na pardeira de uma janela do 1º andar do lado sul da Torre de Menagem.” As inscrições e respetivas leituras, tal como surgem no CATÁLOGO de 1983, são as seguintes: 

RVFVS ET SABINVLA/VXOR/SIBI Rufus e Sabinula sua mulher 
(fez este monumento em memória do seu marido) 
 G [aio]ATTIO/ATTIA/NO RVFINO/SABINVLA/MATER P[osuit] 
 A Gaio Attio Attiano Rufino sua mãe fez (este monumento) 

Em tradições ancestrais, as estelas fúnebres eram por vezes erguidas no local de falecimento e na terra natal do indivíduo. Na Galiza, mais concretamente em Queiruga, perto de Finisterra, encontra-se guardada numa igreja uma terceira inscrição de Sabinula dedicada ao seu filho Attio Rufino, cuja proveniência poderá ser Tomar, tratando-se de pedra calcária. (GALEGO, 2019) 
Esta inscrição na Galiza e respetiva ligação com as de Tomar encontra-se documentada. (PONTE, 1994) 
No entanto, esta ligação entre terras tão distantes através destes nomes seilienses é quase desconhecida para a maioria do público, merecendo maior destaque histórico no futuro. 


 Figura 1: Estela romana em Queiruga na Galiza. 

A inscrição e respetiva leitura: 

C(aius) ATTIVS ATTIANVS RVFINVS SEILIENSIS ANN(orum) XXII H(ic) S(utis) E(st) 
RVFVS PATER ET SABINVLA MATER FECE 

Caio Attio Attiano Rufino seiliense aqui morreu com a idade de 22 anos Pai Rufino e mãe Sabinula mandaram erguer 

A inscrição datada de II d.C. tem como história ter sido localizada numa praia em 1750, tendo servido como base de altar até 1822, data em que foi mandada retirar por não se considerar correto o seu uso religioso. (GALEGO, 2019)
Importante salvaguardar que na inscrição de Tomar, quando se observar a fotografia 11 do catálogo de 1983, percebe-se que o primeiro nome se encontra superiormente encoberto, o que esconde a letra C, parecendo um G, tal como aconteceria se encobrirmos superiormente a leitura da primeira letra da inscrição de Queiruga. Temos desta forma, Caio em vez de Gaio.
Um dado desconhecido, trago aqui como inédito, trata-se da forma como a estela galega é encontrada. De acordo com uma obra galega, publicada por Riega em 1904, acontece um temporal que sacode as embarcações do mar; os pescadores encontram no areal uma lápide, dando-lhe uma conotação divina; foi transportada para o altar da igreja. (RIEGA, 1904)
Estamos, desta forma, perante uma ligação milenar, de nomes que sobreviveram ao tempo através das pedras e que estão agora unidos pela história, questionando-me se este não será um caso único entre os achados romanos ibéricos. Após pesquisa sobre este assunto, considero que poderá, na realidade, existir uma quarta inscrição com ligação às anteriores. Considerando a Galiza como a região onde falece Rufinus, venho criar nova hipótese que contraria esta abordagem, com o seguinte raciocínio: Finisterra é o local mais a ocidente da nossa península, tendo o seiliense Caius Rufinus 22 anos, de família com provável poder monetário, século I e II d.C.; datas em que o Império Romano se expandia até à Britânia, para onde envia exércitos. Considerando Rufinus como soldado enviado, possivelmente oficial, terá segundo este raciocínio falecido em terra ou mar; é pretexto para investigar os achados romanos no Reino Unido. Após pesquisa, foi possível aceder a uma lista digital de nomes da Legio Valeria XX Vitrix, legião romana que atuou na Britânia que incorporava Iberos, onde surge surpreendentemente o nome de C. Attius Rufinus. Este indivíduo, entre outros, é igualmente referido numa obra dedicada a esta legião, onde o seu autor, Malone (2006), o associa a uma possível origem hispânica. (MALONE, 2006; BRITAIN, 2019)
No encalce deste Rufinus foi possível aceder a uma ilustração da inscrição e respetivo suporte informativo, onde na ilustração surge claramente a letra C, para além de na descrição ser introduzida a letra G, no entanto, Malone (2006) já escreve C, ou seja, Caius. (BRITAIN, 2019)

                        Figura 2: Ilustração da inscrição encontrada em Chester na Inglaterra


Suporte informativo:

Type of object: Tombstone
Material: Stone
Description: Partial, dressed down during the excavation to make a building-stone; the margins and most of the poor lettering have been chiselled off.
Dimensions W 0.432 × H 0.584 m Site: Chester (Deva)
Find contexto: In the North Wall (east part).
Find date: 1887
Modern location: Now in the Grosvenor Museum.
Institution/acc. #: Grosvenor Museum: CHEGM: 1999.6.101

EDITION
[ ̣ ̣ ̣] G(aius) Ạṭṭius [ ̣ ̣ ̣] | [ ̣ ̣ ̣] R[u]finus [ ̣ ̣ ̣] | [ ̣ ̣ ̣] a[nn]orum [ ̣ ̣ ̣] | [ ̣ ̣ ̣] | [ ̣ ̣ ̣]ṇ[ ̣ ̣ ̣] | [ ̣ ̣ ̣]au[ ̣ ̣ ̣] | [ ̣ ̣ ̣]st[ ̣ ̣ ̣]



A descoberta desta inscrição acontece no ano de 1887 em Deva, atual Chester, onde existiu uma fortificação e zona habitacional romana, encontrando-se no museu local: Grosvenor Museum. (MALONE, 2006; BRITAIN, 2019; GROVENOR MUSEUM, 2019)
Este achado leva-nos a questionar se o nosso seiliense Caius terá viajado até às ilhas britânicas. Através das pedras é possível caminhar pelo tempo ligando Tomar, Queiruga e Chester. Tomar tem esta capacidade patrimonial de ligar nomes, locais, épocas, de um destaque impressionante que deve ser aproveitado do presente para futuro, reerguendo o passado. A comprovar-se esta ligação, temos Caius Attius Rufinus como o nosso mais antigo guerreiro local conhecido.


 Bibliografia: 
Britain, Roman Inscriptions of. RIB 520. Funerary inscription for Gaius Attius Rufinus. [Consult. 17 de novembro de 2019] Disponível em: https://romaninscriptionsofbritain.org/inscriptions/520

Galego, Patrimonio. Lauda romana de Queiruga. [Consult. 17 de novembro de 2019] Disponível em: http://patrimoniogalego.net/index.php/23441/2012/08/lauda-romana-de-queiruga/

Grosvenor Museum. [Consult. 17 de novembro de 2019] Disponível em: http://grosvenormuseum.westcheshiremuseums.co.uk/ Malone, Stephen James (2006).

Legio XX Valeria Victrix. Archaeopress.

Ponte, Salete da (1994). J. L. Vasconcelos e os percursos por Tomar antiga. [Consult. 17 de novembro de 2019]
Disponível em:http://www.patrimoniocultural.gov.pt/static/data/publicacoes/o_arqueologo_portugues/serie_4/volume_11_12/percursos_tomar.pdf

Riega, Celso García de la (1904). Galicia antigua: Discusiones acerca de su geografía y de su historia. Tip. de A. Del Rio y Micó.

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